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Romanos 10.14...
"... Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?..."

10 de ago. de 2010

O contrato social para o desencargo de consciência.


Marcos Botelho


O peso na consciência não vem apenas pela memória de ter feito algo errado, mas também é muito forte quando sabemos, mesmo que lá no fundo, que não estamos fazendo a coisa mais correta.

Olhar para Jesus, seus discípulos e os heróis da fé e para a vida radical que viveram , acaba gerando em nós um desconforto e um pensamento: como é que estamos vivendo as nossas vidas? Vivemos mesmo esta missão ou já terceirizamos?

O pior é que, com a potencialização do capitalismo e o espírito de revolução industrial onde todos têm um papel específico no processo, aprendemos afazer apenas o nosso trabalho para os outros e pagamos os outros para fazer o nosso trabalho. Deixe-me explicar.

Teoricamente, a bagunça da minha casa, pagar minhas contas no banco, cuidar da minha segurança, ir buscar água para beber no fim do dia e outras coisas, são responsabilidades, tão somente, minhas.

Mas com o desenvolvimento das cidades veio o pensamento de que eu tenho que me preocupar apenas com o que eu decidi ser a minha função, o meu trabalho, mesmo que não tenha nada a ver comigo e, que devo pagar para os outros fazerem o resto para me deixar bem.

Por isso pagamos alguem para limpar as nossas casas, taxas em bancos para pagar a nossas contas, condomínios para nossa segurança, a companhia de água para termos água em casa, e muitos outros serviços. No fim do mês vemos que o que recebemos em dinheiro do nosso trabalho, que fazemos para os outros, bate com o dinheiro que pagamos para os outros fazerem o nosso trabalho. E nessa loucura moderna vamos vivendo.

Não estou dizendo que isso está errado, eu já cresci neste círculo doido, que acredito ser possível frear, mas impossível reverter. E nem sei se de outro jeito seria melhor.

Vivemos pagando para os outros fazerem o que é nossa responsabilidade e com isso não nos pesa a consciência de não fazê-las, pois afinal de contas pagamos, e pagamos caro.

Esse tipo de pensamento faz parte da religião desde os primórdios, mas nos últimos tempos tem sido potencializado através de uma espécie de contrato social para o desencargo de consciência.

Já que eu não evangelizo mais, levamos as pessoas para a igreja para serem evangelizadas pelo pastor, afinal de contas eu dou o dízimo. Já que eu não ajudo o próximo, contribuo com o ministério de ação social, já que eu não vou sair do meu comodismo para fazer missões, “pago” para todo missionário que vem aqui na igreja para eles irem.

É lógico que isso não é uma regra com todos que contribuem, mas é algo a ser pensado, pois é esse o espírito capitalista!

Ninguém fala nisso nas igrejas, pois os dois lados, teoricamente, estão satisfeitos, os que pagam e são aliviados a consciência e os que recebem para viver fazendo as suas tarefas e as dos outros. Mas isso não quer dizer que está correto. E assim vamos vivendo um contrato social para o desencargo de consciência. Mas se fosse diferente, como seria?

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