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Romanos 10.14...
"... Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?..."

18 de fev. de 2010

O ARGUMENTO FALACIOSO (OU EQUIVOCADO) DOS "MARCOS ANTIGOS"




Sempre que um ponto de vista, mesmo que bíblico, contraria algum aspecto da tradição da igreja, surge logo alguém com o velho chavão: "não é bom remover os marcos antigos". Quero fazer um breve comentário sobre este fenômeno.

Em primeiro lugar, a idéia da manutenção dos marcos antigos, no sentido em que é colocada, não se sustenta numa interpretação histórico-gramatical do texto sagrado. Observe o versículo abaixo, de onde provém a conhecida advertência:

"Não mudes o marco do teu próximo, que colocaram os antigos na tua herança, que possuíres na terra, que dá o SENHOR, teu Deus, para possuíre". (Dt 19.14, ARC)

Do que trata exatamente o texto acima?

"Ainda em nosso dias, em muitas sociedades, os limites da terra de um indivíduo são assinalados por um marco de pedra ou por um montão de pedras. Tais marcos eram removidos por pessoas que visavam defraudar seus vizinhos (Jó 24.2; Is 5.8; Os 5.10). Há provas abundantes de que outras nações enfrentavam o mesmo problema. Grandes pedras (no acadiano kudurru) que demarcavam os limites de terras reais na Mesopotâmia traziam gravadas listas de maldições dirigidas contra quem quer que as removesse (cf. Dt 27.17). Em Israel, onde cada homem mantinha seu pedaço de terra como uma herança vinda de javé, a remoção de um marco limítrofe era uma ofensa contra o próprio Javé. Havia uma íntima ligação entre a terra de um indivíduo como seu meio de sustento e a própria vida do homem". (Deuteronômio: introdução e comentário, J. A. Thompson, Mundo Cristão, 1991).

"Mui provavelmente uma referência ao loteamento original de terras às famílias de Israel, ou seja, o estabelecimento da herança que cabia a cada família de Israel, quando a Terra Prometida foi dividida, após a conquista". Ver Jos. 18.1-10." (O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, R. N. Champlin, CPAD/HAGNOS, 2001).

O sentido do texto está muitíssimo claro. O problema da remoção dos "marcos antigos" se relaciona exclusivamente com a questão territorial, quando havia a intenção de defraudar, enganar ou roubar um vizinho. Qualquer interpretação fora desse contexto acaba se perdendo no campo da alegorese (dar ao texto um significado que ele não possui, geralmente espiritualizando o mesmo) ou da eisegese (dar ao texto o significado que eu quero que ele tenha) .

Esclarecida a questão textual, partamos para tratar da questão falaciosa (ou equivocada) do argumento dos "marcos antigos".

Como já colocamos no início deste post, tentar mudar, ou perceber as coisas biblicamente, sempre que atinge alguma tradição da igreja, geralmente é visto por alguns como uma "remoção dos marcos antigos" ou uma "ofensa ao trabalho dos pioneiros". Algumas questões precisam ser respondidas:

Tudo que é antigo é bom? Penso que não.

Tudo que é antigo é ruim? Também não.

Sempre que se procura mudar algo (costume, liturgia, adminsitração, etc), ou se esclarece uma verdade até então compreendida limitadamente ou equivocadamente, se está dessa forma desmerecendo quem fazia, pensava ou ensinava diferente? Entendo que não. Quando as pessoas de boa índole fazem tais coisas, fazem movidas por boas intenções e respeito à organização e aos "mais antigos".

Em razão disto, as mudanças devem acontecer de forma imediata e forçada? Não. Elas precisam ser discutidas, analisadas, ponderadas e decididas, para só depois serem testadas e implantadas. Os ambientes e as pessoas precisam ser preparados para as mudanças.

Ao longo da história das Assembleias de Deus no Brasil, muitas coisas estabelecidas pelos pioneiros já mudaram. Como por exemplo, pode-se citar:

- A resistência à implantação de Institutos Bíblicos ou Escolas Teológicas;
- A resistência ao trabalho de diaconisas na igreja;
- A proibição de usos de símbolos nas igrejas, onde somente a imagem da Bíblia era autorizada (hoje temos a cruz, o candelabro, a arca da aliança, etc);
- A proibição do uso de rádio e televisão pelos crentes;
- A proibição do uso de maquiagem e calças compridas pelas irmãs (em muitas Assembleias de Deus no Brasil tais costumes deixaram de ser exigidos e observados);
- O respeito aos limites de "campo" ou "área de trabalho" dos ministérios e convenções estaduais;
- A "prova" dos candidatos ao ministério (antigamente um candidato ao ministério precisava passar por algum tipo de sofrimento imposto ou teste para ser aprovado e admitido);
- Até a Teologia da Prosperidade, que é uma questão doutrinária, não é passiva mais de sanções.

Eu poderia alongar esta lista, mas onde quero chegar é que se for perguntado para pastores, obreiros em geral e membros sobre se estas mudanças foram boas ou más, as opiniões serão divergentes. Uns afirmarão que foi uma "benção", enquanto outros dirão "infelizmente removeram os marcos antigos".

Quero já finalizar, alertando para o fato de que da próxima vez que você for usar o falacioso (ou equivocado) argumento dos "marcos antigos" pense duas (ou mais) vezes, pois, em se tratando de mudanças (sejam elas quais forem), elas podem ser bem intencionadas e boas.

Por outro lado, quando você for confrontado e vitimado por este argumento, pense também duas (ou mais) vezes, para não cair no erro da mudança pela mudança, ou do inovacionismo.

Em ambos os casos, um bom período de oração, acrescentado de uma postura humilde, não fará mal a ninguém.

Abraços.

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